SISTEMA INTEGRADO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS (SISB)

março 11, 2022

 

SISTEMA INTEGRADO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS PARA GESTÃO DE INFORMAÇÕES DE BARRAGENS DE DIFERENTES PORTES

 

RESUMO

A Lei 12.334 de 2010 [1], responsável pela Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB), possibilitou criar um marco legal para a segurança das barragens brasileiras, fornecendo dispositivos para sua aplicação. A RHA Engenharia, empresa sediada em Curitiba, atuante no setor há mais de 20 anos, na elaboração de Planos, Monitoramentos e Inspeções de Segurança de Barragens em todo território nacional, desenvolveu uma ferramenta auxiliar a gestão em consonância às necessidades dos seus clientes. A experiência adquirida pela empresa em mais de 100 barragens públicas e privadas de diferentes setores permitiu o desenvolvimento do Sistema Integrado de Segurança de Barragens (SISB-RHA), assegurando a conformidade dos empreendimentos à legislação vigente. O SISB–RHA possibilita aos empreendedores a implementação da Política Nacional de Segurança de Barragens, cumprindo as exigências da Lei com uma visão holística que integra Proprietário, Órgãos Fiscalizadores, Defesa Civil e Comunidade.

CONFIRA O ARTIGO NA ÍNTEGRA:

Barragens trazem benefícios para toda a população, seja com o abastecimento de água para uso humano e industrial, irrigação, produção de energia elétrica, regularização de vazões atenuando os efeitos de secas e cheias, disposição de rejeitos de mineração, acumulação de resíduos industriais, navegação, aquicultura e recreação. No entanto, associado aos benefícios vêm os impactos sociais e ambientais, como a alteração do regime fluvial e de ecossistemas, o deslocamento de populações e sismos induzidos. Independentemente de seu tamanho, barragens, assim como qualquer estrutura, têm risco de ruptura e podem gerar danos às populações, ao ambiente e à economia.

A Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) estabeleceu a empreendedores e órgãos fiscalizadores a diretriz basilar para a garantia da segurança dos empreendimentos brasileiros. A Lei estabelece instrumentos para garantia da integridade das barragens, como: Elaboração do Planos de Segurança de Barragens; Elaboração e Implementação do Plano de Ação de Emergência; Elaboração da Revisão Periódica de Segurança De Barragens; Realização de Inspeções Rotineiras e Especiais; Auscultação e Análise da Instrumentação na Barragem e Elaboração de Estudos Complementares. A PNSB, apesar de ser considerada uma legislação de referência, não impede o acontecimento de acidentes em barragens brasileiras, sendo necessário para tanto ações responsáveis e continuadas da parte dos proprietários, órgãos fiscalizadores e sociedade.

Acidentes como os de Mariana e Brumadinho ainda reverberam na sociedade, evidenciando a importância de estarmos permanentemente atentos para dirimir os riscos de desastre e garantir que a barragem cumpra sua finalidade, observando os cuidados necessários à preservação da vida, da saúde, da propriedade e do meio ambiente.

Em 2019, num universo de 19.388 barragens em todo o território nacional, foram relatados 12 acidentes e 58 incidentes em 15 Estados brasileiros (Relatório de Segurança de Barragens 2019, da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico). O mesmo levantamento realizado pela Agência aponta um aumento na quantidade de barragens que preocupam os órgãos fiscalizadores. São 156 barragens críticas em 22 Estados – a maior parte delas (63%) pertence a empreendedores privados [2].

Os números confirmam a importância de ações de monitoramento e a necessidade de uma gestão integrada, passível de ser implementada em todas as barragens brasileiras garantindo sua segurança.

PROPOSIÇÃO DE UM SISTEMA INTEGRADO DE SEGURANÇA DE BARRAGENS

A gestão de segurança de barragens requer, além do cumprimento dos instrumentos apresentados pela Política Nacional de Segurança de Barragens, uma visão sobre a segurança como um processo continuado, que deve ser incorporado no dia-a-dia dos empreendedores, independentemente do porte ou do número de barragens sob sua responsabilidade.

Os instrumentos apresentados pela Política Nacional de Segurança de Barragens permitem que seja avaliada a integridade de cada barramento e estruturas associadas e, a partir dessas informações, medidas preventivas e/ou preditivas devem ser estabelecidas. Contudo, o desenvolvimento dessas atividades requer que os dados sejam atualizados com frequência, analisados e disponibilizados para tomada de decisão. Portanto, apenas a implementação de um sistema integrado de gestão permite um acompanhamento pronto e permanente do estado do empreendimento.

Para o desenvolvimento do SISB, a RHA Engenharia definiu tecnologias que são suficientemente adaptáveis às necessidades dos mais diversos empreendedores do Brasil. O Sistema Integrado de Segurança de Barragens foi desenvolvido com informações armazenadas em tecnologia cloud, permitindo acessos remotos, e desenvolvimento modular com React.JS, linguagem responsiva derivada do Java Script. A segurança do sistema, por tratar de informações sensíveis, foi realizada através de dados criptografados, e para permitir maior adaptação o sistema pode ser hospedado em servidor próprio do empreendedor.

O desenvolvimento do sistema apresenta o conceito modular, e permite que novos módulos sejam integrados à plataforma. A versão beta possui cinco módulos principais, além de configurações adicionais.

Os módulos disponíveis são: Dashboard, Inspeções Remotas, Sistema de Monitoramento, Maquete Digital 3D e Documentos.

O Dashboard – Módulo 1 – compendia as principais informações do sistema, e apresenta a situação atual da barragem, contendo as últimas informações obtidas em campo e um cronograma de atividades indicando ao gestor o planejamento das ações voltadas à segurança da estrutura. Além disso, o dashboard apresenta o Plano de Ação de Emergência (PAE), permitindo acesso imediato à ele, na eventualidade de situação excepcional – as rotas de evacuação e o fluxograma de notificação também são dados disponíveis no dashboard. Na Figura 01 é apresentada a sistematização de informações no Dashboard.

FIGURA 01 – DASHBOARD SISB-RHA

O módulo Inspeções Remotas – Módulo 2 – é responsável pelas visualizações dos resultados obtidos com as inspeções de campo, permitindo à equipe técnica acesso às principais informações, como acompanhamento das anomalias relatadas anteriormente e pontos fixos de inspeção. Consta de planta de anomalias com registro continuado das alterações e correções realizadas, mapa de instrumentos com o posicionamento georreferenciado da instrumentação existente, mapa do registro fotográfico dos trabalhos de campo com divisão em layers segundo as datas de inspeções (My Maps), figura de localização do sistema.

O módulo Sistema de Monitoramento – Módulo 3 – permite o cadastro e registro das leituras dos equipamentos de segurança disponíveis na barragem, como piezômetros, medidores de nível, drenos, marcos superficiais de deslocamento, etc. A entrada de dados no sistema pode ocorrer de forma  manual ou por transmissão remota; a organização desses dados e sua análise utiliza valores de referência. O sistema de monitoramento também possibilita a visualização e análise de dados hidrometeorológicos coletados na barragem e na bacia de drenagem.

O módulo Maquete Digital 3D – Módulo 4 – apresenta o As It do empreendimento a partir de modelo tridimensional, do barramento e das estruturas associadas, com precisão centimétrica, obtido através de sobrevoo de VANT com referenciamento por GPS GNSS RTK. A Maquete Digital renderizada, conforme apresentado na Figura 02, possibilita diversos usos como a inserção de informações georreferenciadas da instrumentação e de anomalias, bem como a extração de dados reais da estrutura (inclinação dos taludes, distâncias, etc).

FIGURA 02 – MAQUETE DIGITAL DESENVOLVIDA PARA UMA BARRAGEM DE TERRA LOCALIZADA NA BACIA DO RIO TIETÊ.

O módulo Documentação – Módulo 5 – organiza a documentação do empreendimento, permitindo ao usuário a livre definição das pastas. A função é a criação de um repositório com qualquer informação que possa ser útil eventualmente, como biblioteca de projetos, ficha técnica, classificação de risco, estudos diversos associados à barragem, relatórios de inspeção, etc. A Figura 03 apresenta um exemplo de sistematização para o módulo de documentos, e pode ser configurada conforme a necessidade do usuário.

FIGURA 03 – SISTEMATIZAÇÃO DA DOCUMENTAÇÃO.

Os módulos assim constituídos permitem ao empreendedor acesso rápido às principais informações da barragem para implementar/ acompanhar uma gestão ativa da segurança. A sistematização de todas as informações facilita o atendimento às exigências dos órgãos fiscalizadores.

A apresentação visual traz dinamismo às informações evitando eventualmente que técnicos se percam em relatórios desatualizados. O SISB-RHA permite a criação e controle de diferentes níveis de acessos para divulgação de informações aos órgãos fiscalizadores, Defesa Civil e comunidade potencialmente afetada, conforme definição prévia do empreendedor.

CONCLUSÃO

Em 2019, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico constatou que havia 19.388 barragens no País, boa parte (41%) [2] sem informações mínimas sobre sua estrutura. O desconhecimento do estado de conservação dessas estruturas fomenta a criação de sistemas ágeis de suporte à decisão aos empreendedores e órgãos fiscalizadores, buscando superar essa realidade.

Nesse contexto, o SISB-RHA contribui significativamente para a gestão de empreendimentos ao organizar toda a cadeia de informações, atividades e  obrigações que permeiam a segurança de barragens.

O sistema desenvolvido pela RHA Engenharia contempla todas as etapas da Política Nacional de Segurança e Barragens, em atendimento à Lei 14.066/2020, sistematizando todas as informações do empreendimento em uma plataforma única com acesso remoto. O sistema também permite a troca de informações com os órgãos fiscalizadores e demais entidade envolvidas facilitando a implementação do Plano de Ação de Emergência nas Zonas diretamente afetadas, com ferramentas georreferenciadas e interativas.

Dentre os avanços em curso do SISB-RHA estão:

  • Desenvolvimento do Módulo de Plano de Operação e Manutenção;

  • Desenvolvimento do Módulo de Implementação do PAE contendo Plano de Comunicação Social;

  • Incrementos nos módulos existentes: consistência prévia de dados, níveis de alerta dos instrumentos, envio de mensagens para responsáveis pela gestão, locação da instrumentação existente na maquete digital 3D, integração da plataforma do SISB-RHA com sistemas hidrometeorológicos disponíveis de forma remota, geração de relatórios automáticos na padronização do cliente.

 

[1]       BRASIL. Lei nº 12.334, de 20 de setembro de 2010. Institui a Política Nacional de Segurança de Barragem. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ano 189, 11 20 set. 2010.

[2]        BRASIL, Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, Relatório de Segurança de Barragens. 1. ed. Brasília: ANA, 2020. 69 p.

 

Candice Schauffert Garcia

Engenheira Civil pela Universidade Federal do Paraná (2001), com curso parcialmente realizado na Universidad de Cantábria (Espanha). Mestre em Engenharia de Recursos Hídricos e Ambiental pela Universidade Federal do Paraná. Professora universitária na graduação em Engenharia Civil para as disciplinas de Mecânica dos Fluidos, Hidráulica e Hidrologia (2007-2015). Engenheira da RHA Engenharia e Consultoria SS LTDA desde 2003 e Diretora Executiva desde 2005, participando na coordenação e desenvolvimento de projetos nas áreas de Recursos Hídricos e Meio Ambiente.

 

Laertes Munhoz da Cunha

Engenheiro Civil pela Universidade Federal do Paraná (1975), Mestre em Engenharia Civil/Recursos Hídricos pelo COPPE (1986), Engenheiro da COPEL, atuando no Centro de Hidráulica e Hidrologia Professor Parigot de Souza – CEHPAR (1976-1986). Coordenador da área de Operação Hidráulica de Reservatórios na COPEL (1987- 1998), Professor da UFPR nas funções de professor Assistente e professor Adjunto (1980-2012). Sócio e consultor da RHA Engenharia e Consultoria SS Ltda, participando do acompanhamento e execução de projetos pela RHA (2005-atual).

 

Artur Cerveira Bertone

Engenheiro Civil formado pela Universidade Federal do Paraná (2019), com curso parcialmente realizado na University College Dublin – Dublin, Irlanda. Pós Graduando em Segurança de Barragens pelo Instituto IDD. Engenheiro na RHA Engenharia atuando na área de segurança de barragem.